3 de janeiro de 2007

Exorcizando fantasmas do passado...

Devem estar a pensar "Dois posts no mesmo dia?? Nãoooooo... ninguém merece!!". Mas ao escrever o meu post anterior sobre a relação que mantenho com os meus "ex's", referi o 1.º amor de toda a minha vida. Pensei em falar dele nuns posts mais à frente, mas tenho de escrevê-lo agora... neste post, vou chamar as pessoas pelos nomes e não pela letra.

Entrei na escola primária com 6 anitos... muitos coleguinhas da minha idade, alguns mais velhos (aqueles grandes do 4.º ano)... as minhas amigas andavam sempre de volta do Rui, do 2.º ano. Porque era aquele que jogava melhor à bola, era o que corria mais rápido, era o mais bonito e o mais inteligente... mas eu olhava, pelo canto do olho, para o João. O João e o Rui eram inseparáveis e apesar de terem a mesma idade, o João era mais alto. Era moreno. Tinha um sorriso mais bonito. O cabelo era castanho aos caracóis. Os olhos eram também castanhos, mas castanhos clarinhos... para mim, só para mim, considerava o João mais bonito do que o Rui. Nunca percebi o que aquele magrinho e baixinho tinha de especial, mas ainda bem... assim podia ficar com o João só para mim. Quando se tem 6/7 anos não dá para esconder nada da professora... e a professora Raquel era especialmente atenta. Descobriu que o João estava sempre no meu raio de visão; foi uma descoberta para todos: "A Cristina gosta do João!!" - inventaram uma cantilena para os intervalos "A Cristina e o João... vão os dois para o Japão... com um cão!!" - eu chorava de vergonha; não gostava que gozassem comigo!

O João, um ano mais velho do que eu, nunca olhava para mim. Saiu da escola primária mais cedo e foi para "a escola da Carreira". Um ano depois, cheguei eu àquele mundo novo. O João lá estava. Éramos de turmas diferentes... já escasseavam as oportunidades de olhar para o João! O interesse rapidamente desapareceu.

Até há cerca de 4 anos... ouvi sinais dados pelo sino da Igreja. Um anúncio chocante: o João, ao levar a namorada a casa, sentiu-se mal ao volante e acabou por falecer. Fiquei de rastos... nunca tínhamos sido amigos, mas aquele tinha sido o primeiro rapaz por quem me interessara. Era uma criança, na altura, mas gostava dele. Ele era diferente dos outros e já não o poderia ver nunca mais! Não fui ao funeral. Não tinha lógica... ia lá estar a família, a namorada, os amigos... mas visito a campa dele com alguma frequência. Lá está ele com os seus cabelos aos caracóis e o mesmo sorriso de que me lembro quando tinha 7 anos.

João Miguel... sorri de cada vez que escrevia o nome dele neste post. Uma morte tão estúpida quando se tem 21 anos e uma vida inteira pela frente!

5 estrelinhas:

Alexandre disse...

Cristina, acho que este foi o post qu escreveste que mais me tocou... conseguiste escrever sobre uma tragédia de uma maneira discreta e muito bem escrita!

Acho que fizeste bem em exorcizar alguns fantasmas. Estranha essa morte do rapaz. Há coisas esquisitas, mesmo!

Parabéns pelos teus dois últimos posts. Confirmei que és uma pessoa sensíevel e muito atenta aos problemas dos que te cercam... eu já tinha essa noção!

Beijokas!

PJ disse...

...e uma pessoa que tem um sentido de humor e boa disposição que são inversamente proporcionais à sua altura :) Esta história do teu “primeiro amor” é mais um exemplo de que as pessoas não surgem nas nossas vidas “por acaso”. Eu cá não acredito em coincidências, acasos. Tudo tem um sentido, uma razão de ser. Como vês, apesar de o teu contacto ter sido à distância, este rapaz trouxe-te coisas boas, fez-te (e faz-te) sorrir. Isso é importante ;)

Cristina disse...

O João Miguel e todas as outras pessoas que passaram pela minha vida merecem toda a consideração possível (excepto uma pessoa de quem não vale sequer a pena falar). E apesar de muitas vezes brincar com as coisas... é a única forma que tenho para lidar com elas: para desanuviar a tensão das situações... odeio andar deprimida! E o bom humor é das coisas que me salvam quando tudo o resto não funciona.

Alexandre, a morte do João foi estranha, no sentido em que era um jovem. Não sei pormenores, mas ele sentiu-se mal quando estava com a namorada, meteu-se no carro, e despistou-se... devem ter feito autópsia, com toda a certeza... não sei os resultados, mas esta foi a "versão" que correu.

K@chume, também não acredito em coincidências. Tudo na vida tem um sentido. E o João, a Vânia, o Guilherme e a Sónia... estão lá em cima a velar por mim e por todos aqueles que os adoraram, em vida.

Cristina disse...

Ahhh... obrigada pelos vossos comentários ;)

Alexandre disse...

Cá estou eu de novo: desta vez coloquei no meu blog uma questão relacionada ainda com leituras, quem será que lê mais em Portugal, os homens ou as mulheres? Está aberta a participação...

Super beijinhos!!!!

 

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