30 de outubro de 2011

A idade é um lugar estranho

Tomamos a nossa juventude, beleza e saúde como bens... garantias adquiridas... direitos inalienáveis.
Como se, um dia, pudéssemos chegar junto de uma entidade superior e dizer "A minha juventude "avariou". Tem aqui o talão da garantia!" e, como consequências, a levassem para a fábrica para substituir peças ou nos entregassem uma nova, porque a anterior não tinha arranjo possível.

É estranho e ao mesmo tempo engraçado pensar nisto quando se tem 28 anos, quando se tem, no mínimo, mais de outros tantos anos pela frente.

O envelhecer não me assusta. O que me mete medo é envelhecer com falta de saúde. Hoje, vi um senhor de bastante idade, meio curvado, que levava na mão um saquito de um conhecido supermercado, com meia dúzia de coisinhas.
Assusta-me pensar que um dia vou perder a minha força para transportar um saco de supermercado com vários litros de leite, vários quilogramas de fruta... tal como fiz ontem.

Agora, no auge da minha juventude, todos os dias há uma dor - de cabeça, de dente, de unha do pé... - mas nada apaga a imagem do senhor velhinho, curvado, com o pequeno saco de compras.

(esta madrugada a hora mudou; vai ser assim até meados de Março. A minha única consolação - com este horário de Inverno - é que a partir de Dezembro os dias têm tendência a crescer e quando dermos por eles estamos no Verão outra vez.)

28 de outubro de 2011

A maldade primitiva do Homem

Há uns anos, conheci o Duarte Lima. Era conferencista numa sessão sobre a leucemia, e a história dele comoveu-me.
Senti uma imensa simpatia e solidariedade pela provação que tinha passado, bem como pela coragem que demonstrava em falar abertamente sobre a doença que o tinha atingido.
Quando saí da conferência, era capaz de meter as mãos no fogo por aquele senhor tão simpático.

Mas... o tempo foi passando e vieram os escândalos sobre as trapaças do filho. E as suspeitas do enriquecimento do próprio Duarte Lima. E a minha simpatia foi diminuindo.

Entretanto, a notícia da morte da dona Rosalina, as suspeitas sobre o envolvimento de Duarte Lima, as contradições do senhor, a recusa em responder a perguntas da polícia brasileira (onde há fumo, há fogo!), o não saber que carro guiava no Brasil, nem que empresa lhe tinha prestado o serviço, mas mandar mails a pedir a factura... enfim, um sem número de indíces incriminatórios que me fizeram dizer "Adeus!" a qualquer réstia de qualquer coisa boa que pudesse sentir por ele.

Causa-me repugna que alguém mate outro alguém por causa de dinheiro. A ambição desmedida e a crueldade que daí poderá advir causa-me arrepios e faz-me ter consciência da maldade natural e primitiva do Homem.

26 de outubro de 2011

A moça que veio do frio

Gosto de dias chuvosos quando estou em casa, fechadinha e sem previsões de saída; quando sei que não me vou molhar, perder o guarda-chuva, estragar o guarda-chuva ou que me roubem o guarda-chuva, ou ser arrastada pela ventania.
Gosto de dias chuvosos quando tenho um filme ou um livro, uma mantinha nos pés e um chá.
Gosto de dias chuvosos quando não tenho de vir trabalhar e arriscar a ficar presa no trânsito, porque houve um idiota que pensa que as estradas molhadas são o circuito de Nascar, se põe a acelerar e provoca o caos.

Sou uma rapariga do frio. Porque posso vestir mais uma camisola, pôr uma cachecol e um casaco bem quente e posso sair à rua.

O dia de hoje aborrece-me. Queria que parasse de chover.

13 de outubro de 2011

E ao sétimo dia...

Não sou uma pessoa de funerais.

Na minha terrinha, existe a "tradição" - quase como se de um código de honra se tratasse - que, em caso de morte de alguém conhecido, vá ao funeral um da família para representar o núcleo.
Coisas de terras pequenas, onde toda a gente se conhece... portanto, já se sabe: quando alguém morre, há sempre centenas de pessoas que se deslocam à Igreja e ao Cemitério.

Que me lembre, só fui a 3 funerais na minha vida: ao da Vânia (a minha melhor amiga), ao do meu avô paterno e ao do Diogo (um miúdo que era do meu Agrupamento de Escuteiros). A ideia da morte... quero dizer... sempre tive consciência dela. Fosse com uma dor maior ou menor.

A 1.ª vez que me lembro de me terem dito "morreu!", foi quando morreu o pai da minha mãe. Não me custou. Parece estranho dizer isto, mas eu era muito nova e só tinha visto aquele avô duas vezes. Depois morreu o padrasto da minha mãe. Custou-me muito, porque esse era aquele que eu reconhecia como avô. Com o avô Zé... chorei, mas, passou.

A Vânia, quando eu tinha 16 anos, a Sónia e o Guilherme, no mesmo ano; o meu avô João aos 17 anos... o Diogo quando eu teria uns 25 anos.

Isto sem contar com aqueles tios velhinhos que, por força da idade, iam fechando os olhos.

Na semana passada, foi a minha tia Luísa... a tia a quem eu chamava avó, tal era o amor que lhe tinha. Não fui ao funeral, não porque não quisesse, mas porque (infelizmente) o meu pai está bastante debilitado fisicamente e tinha de ficar com ele. Hoje, quinta-feira, é a missa de 7.º dia e também não me recordo de alguma vez ter ido a uma. Certamente, estive na do meu avô João, mas... não me lembro.

Vou chorar, de certeza. Estes momentos... são como... prolongamentos da dor. E quem é que gosta de sofrer?! Mas eu vou. Estou em falta com a minha consciência e preciso de dizer a Deus que esta morte não é justa, que continuo zangada com Ele, mas que, apesar de tudo, Lhe quero pedir que olhe pela minha tia.

É hoje, que faço, a sério, o luto pela minha tia e levo a minha vida em frente.

10 de outubro de 2011

Tia Luísa e Steve Jobs - denominador comum: o cancro

No mesmo dia em que o Mundo lamentava o desaparecimento do guru das novas e mais avançadas tecnologias, Steve Jobs, eu desesperava com a morte da minha tia Maria Luísa.

Ainda me lembro - antes de saber da notícia do falecimento da minha tia - de ter comentado com a minha patroa que nem todo o dinheiro do Mundo consegue salvar alguém da garra do cancro.

A minha tia também morreu de cancro. No estômago. Detectado demasiado tarde, porque houve um médico incompetente a desvalorizar as queixas de uma senhora de 80 anos. O mesmo que aconteceu há mais de uma década quando outro médico incompetente também não deu valor às queixas do meu avô. Não tenho nada contra os médicos, só contra aqueles que são maus profissionais...

É muito triste ver partir entes amados. E ainda mais tristes quando sabemos que muito mais se poderia ter feito se alguém tivesse estudado a lição e visto que algo de errado existia.

Todos vocês que me lêem desse lado, certamente, já devem ter tido alguém que morreu de cancro e percebem a dor que é ver alguém de quem gostamos muito a definhar todos os dias.

A última vez que vi a minha tia, ela estava extremamente magra; mas, sinceramente, não é essa a imagem que guardo dela. Nestes últimos dias, sempre que me referia à minha tia, surgia-me na mente a figurinha roliça, pequenina que me tratava por "filha" e por "querida" e que gostava muito de me abraçar e dar beijinhos.

Adeus, tia, amo-te muito e só não me permito chorar mais por ti, porque sei que não me ias deixar.
 

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