12 de março de 2013

Carta ao meu filho que ainda não nasceu #05

Henrique, 

esta é a 5.ª e última carta que te escrevo. Hoje, lembrei-me de uma música do Sérgio Godinho, procurei a letra e "roubei-lhe" um pouco da poesia:

Enfim duma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar, sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Terias de nascer. Sempre foi um dado adquirido. Os bebés nascem. Ponto final. Ciclo da vida e blábláblá...
Mas ter a consciência disso... a data marcada... o dia D à distância de meia dúzia de horas... é uma chapada que a realidade deu aqui aos teus pais, à bruta!

Nasces já na 6.ª feira. Percebes a violência da coisa?!

No domingo, quando o médico puxou da agenda - que na capa tinha escrito qualquer coisa como "Marcação de Cesarianas" - e procurou os dias 14 e 15, percorreu-me um friozinho pelas costas. Procurei a minha própria agenda, enervei-me por segundos por não encontrar a esferográfica e, a tremelicar, escrevi em letras maiúsculas no espaço do dia 15 CESARIANA - ESTAR NO HOSPITAL ÀS 8h30 (6h de jejum).

Depois de quase 9 meses em que foste só meu, depois de muitas queixinhas, depois de muitas caimbras, enjoos, azia, noites de insónia, pontapés nas costelas, idas à casa de banho todas as meias-horas, vou partilhar-te com o Mundo.
Estamos juntos há tanto tempo, já fazemos parte da vida um do outro há tanto tempo que me parece quase surreal que daqui a uns 3 dias estás nos meus braços.

Vamos ter de aprender a conviver juntos. Tenho de perceber quando tens fome, frio, sono, a fralda suja ou quando, simplesmente, me queres ao pé de ti. Isto tudo será tão novo para ti, como para mim e para o teu pai. Nesta fase, seremos todos bebés à procura de qualquer coisa.

Não sei se algum dia vais ler estas patetices de uma grávida com as hormonas todas malucas, mas quero que saibas que existes em mim. Desde sempre. Para sempre.



2 estrelinhas:

NI disse...

Pois, eu soube esta manhã pelo teu "menino grande" que não seria hoje avó virtual.

Mas sexta não anda longe. E não stresses. Vai correr tudo bem.

:)

Beijo enorme

Nitrox disse...

Adorei esta prosa, linda.

 

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