19 de outubro de 2017

Os pais (também) são seres que nos são emprestados

José Saramago escreveu um dia:
"Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de agir corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo."

E com os pais passa-se o mesmo. Esperamos deles que nos alimentem, nos vistam e nos eduquem. Que nos amem. Que nos ensinem. Que nos beijem e nos castiguem. Mas, no fim, quando já adultos, percebemos que isto de ser filho não é tão linear assim. Que, afinal, os pais não vão ficar sempre ali para nos amparar.

A minha vida - e a do meu irmão - sofreu um revés. Um enorme revés. O maior deles todos: perdemos a nossa melhor amiga. A nossa confidente. A mulher das nossas vidas.

E tudo me lembra ela. As caixas de plástico que ela enviou com comida e nunca foram devolvidas. As roupas que visto ao Kiko e que foi ela que ofereceu. As roupas para o miúdo que ainda tenho guardadas (porque eram grandes) que foi ela que deu. Abrir o congelador e encontrar lá coisas que ela mandou. Ou abrir uma gaveta e encontrar o postal de Natal com a letra dela.

Todos os dias choro. Choro quando se aproximam as horas em que lhe ligava. Choro quando vejo uma foto dela. Choro quando me lembro dela, do sorriso, da voz e choro, choro, choro...

A dor de perder a mãe não tem comparação. É que não é só perder a mãe. É perder o porto seguro, é perder o pé na piscina e não conseguir vir ao de cima. Ser filho... também é um ato de coragem! E ninguém nos prepara para isto!



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