No domingo, ele avisou "olha lá, ó gaja, às vezes, esqueces-te de mim, mas ainda cá moro". Pensei que fosse a voz da minha consciência, mas afinal era só o meu dente do siso. Aquele do lado direito (porque o irmão é exemplar). Como qualquer português que se preze, auto-mediquei-me. Aquilo acalmou, estive tranquila na praia.
Na segunda-feira, aquela dor chatita voltou. Pensei "'tá bem, ó cromo. Deves ter um bocado a mania que és dente do siso. Cresce e aparece. TROLL!". Em vez de ligar para o dentista, como qualquer pessoa com juízo faria, vá de enfiar outro comprimido e mais outro passado umas oito horas. O certo é que fui aguentando a dor, apesar de reconhcer que me custava a engolir e estava a começar a sentir umas "cenas estranhas" no ouvido direito.
Terça-feira (hoje, portanto), a dor era lacinante: "Acorda. ó calona. Chamaste-me troll, agora vês o que é bom para as tosses" Acordei em sofrimento. Doía-me horrores a engolir... a própria saliva. Tocar na cara para meter um simples hidratante, foi um pesadelo. E tomar o pequeno-almoço foi digno de Indiana Jones. Ir ao dentista já não era uma opção.
Saio de casa, muito mais cedo do que o costume, e "corro" para o consultório. Chego lá quase em lágrimas, porque entretanto apanhei um trânsito invulgar na EN109 e demorei imenso tempo a chegar e estacionar. Pedi "por favor" à empregada para perguntar ao Dr.F se me podia ver entre consultas, porque já não aguentava as dores. E viu.
Mal me viu: "Estás boa?!". Resposta: "Acha que se eu estivesse boa, vinha, voluntariamente, implorar para que o doutor me atendesse?!". Riu-se e mandou-me sentar. Mal meteu a mãozinha na minha boca, desatei a chorar. O médico recuou de imediato e fez logo o diagnóstico: infecção generalizada na boca, garganta e ouvido provocado pelo filho duma grandessíssima meretriz do dente do siso.
Concluindo: vou tomar um verdadeiro cocktail de antibióticos e analgésicos e 'pain killers' e para a semana volto lá para marcar a "extracção" do bicho ruim. Nos próximos dias vou andar tão drogada que nem consigo imaginar. Segundo as minhas contas, vou tomar 8 comprimidos por dia. Junto-lhe umas vodkazinhas e sou uma Amy Whinehouse em potência.