26 de novembro de 2009

Jornalismo ou prostituição?

Estamos em crise. Toda a gente já reparou nisso. É inevitável. Até a pessoa mais desatenta do Mundo consegue compreender que a época não está para brincadeiras. Um jornal não foge à regra. Há contas para pagar, há funcionários que precisam dos ordenados, há serviços que têm de ser cobrados, etc, etc, etc.

E o DL Times não é excepção. Todos os finais de mês, percebe-se quando estamos prestes a atingir o famigerado 'cash-flow' positivo. Mas há meses melhores que outros e nós não somos o Correio da Manhã. E a receita mensal é sempre a mesma: cobrar, cobrar, cobrar, fazer assinaturas, fazer contratos de publicidade... and so on.

Mas há coisas que me apoquentam todos os finais de mês. Mais do que saber, em que dia, cai o ordenado, é a capacidade do departamento comercial em vender notícias. Têm clientes. Clientes entram com dinheiro. Clientes 'choramingam' contrapartidas. Vendedoras vendem publicidade a troco de notícias. E volta e meia lá vem o e-mail a "pedir" para serem feitas notícias sobre loja/bar/restaurante/salão de cabeleireiro que remodelou instalações, ou fez 9 anos e seis meses, ou que passou a ter música ao vivo.

Enquanto jornalista, apesar de compreender que esta notícia significa mais uns quantos euros para o bolo, sinto-me defraudada, aprostituzada, desmotivada quanto à minha verdadeira missão: informar o meu leitor de eventos, efectivamente, importantes.

Esta semana, foi demais. Cheguei ao cúmulo de perguntar em cada manhã ao novo chefe: "S. o que é que tens para aí encomendado?!". Se não fosse tão ridículo, dava vontade de rir, até porque, nós, jornalistas, somos obrigados a perceber o que motiva o departamento comercial, mas aquelas cabecinhas não fazem um mínimo de esforço para perceber o nosso compromisso enquanto jornalistas.

6 estrelinhas:

NI disse...

Uma questão de sobrevivência mas que levanta questões éticas. E não é uma questão nova. Há vinte anos atrás já se colocava. Como em tudo na vida, o bom senso e o brio profissional e pessoal poderão dar uma ajuda.

Beijo

Sadeek disse...

É pá...se é para a malta se prostituir.....ao menos que seja em grande e que isso nos dê independência financeira, não? ;)

BEJOOOOOOOOOOOO

Miguel F. Carvalho disse...

hoje em dia tudo é um negócio... e estes para existirem têm de dar dinheiro...

mas enquanto se estiver a promover a música ao vivo de um bar qualquer ainda é o menos... pior é quando se começam a chamuscar ou a branquear pessoas ou actos em nome de sabe-se lá o quê..

Cristina disse...

Ni, sim, sei que já não é novo. Nem sequer se limita às paredes do meu jornal. Tento fazer o meu trabalho da melhor forma possível e principalmente encontrar um ponto que seja interessante para o meu leitor.

Miguel, infelizmente, meu caro. Mas desmotiva-me enquanto profissional da comunicação.

Sadeek, o pior é que não ganho mais por isso. Vejo o departamento comercial como o meu chulo: eu faço o serviço, mas elas é que ficam com as comissões. hahahaha

Beijoooooooooosssssssss

AD disse...

Oi Cris! ;)
Até me arrepiei ao ler as tuas linhas... e até os meus olhos ficaram humedecidos...
Acabas de colocar aqui parte do meu desencanto pela profissão (?). Respondendo ao teu título, defendo que é prostituição... e pergunto: será mesmo uma questão de sobrevivência (devido à "Crise")? Ou trata-se de uma dependência?
Conheces-me bem e sabes a parca experiência (ou nula) que tenho na área. Enquanto tive no diário nacional fui uma privilegiada naquela redacção. É certo que nas primeiras semanas não me apercebi logo, mas, percebi a minha sorte. Saía, era-me exigido o novo, o inédito, o exclusivo… ia para o terreno! Foi bom. Enquanto durou. Gostei, mas, as prioridades que tenho na minha vida… não me permitiram que optasse por ficar. Mas, também nessa altura comecei a perceber que a actividade me desencantava… Por isso de que falas: Prostituição! Os OCS já não são aqueles que nos informam da forma mais isenta e objectiva possível… já não procuram a notícia… Tornaram-se empresas. E como qualquer empresa, importa-lhes o lucro. Quem decide são os seus shareholders e, como os consumidores se tornaram uma massa amorfa, comem o que lhes põem no prato.
Ética e deontologia? Ficaram onde? Tu vês – e provavelmente bem mais do que eu – as “notícias” de todos os dias sobre a classe. Jornalistas (até me envergonho de dizer “jornalistas”) que se vendem da forma mais… olha… é como tu dizes: prostituição! Do mais chocante e inaceitável! Mas real…
Ainda no que toca ao ir para o terreno… Maldita a hora em que surgiram as agências noticiosas! E eu contra mim falo, que já recorri e ainda recorro, a elas. Mas… caramba! Que raio de jornalistas temos hoje? Ficam com o rabo colado na cadeira… a aguardar que caia o take e seja chapado na página. Mas a culpa não é dos jornalistas… é de quem está acima. É dos editores, directores e quem paga no fim do mês.
Dói-me ler isto, mas sei que o acontece e não é só aí na tua casa... aliás, isto anda (quase) tudo assim.
Este meu desabafo está-me a fazer pensar ainda noutras barbaridades inerentes à profissão… mas, não digo mais nada.
Sou uma apaixonada por Comunicação. Mas já não estou enamorada do Jornalismo. Se bem que ainda tenho recaídas… ;)
Força nisso! :)

PJ disse...

Sobre este tema (textos e links): http://www.jornalices.com/?p=610.

 

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